Surdolimpíadas - encontros linguísticos

“A narrativa aqui conta a história de dois personagens surdos que se encontram a caminho da surdolimpíada para disputarem a Modalidade Orientação. Ela chama-se Júlia, compete na modalidade Cidade. Ele, Júlio, apelidado de Juju, compete na Mata, ambos personagens foram inspirados em indivíduos reais da comunidade. Durante a competição, as ilustrações perpassam as regras da modalidade Orientação em verde e amarelo. As cores foram propositalmente escolhidas para representar as surdolimpíadas no Brasil. Este material, além de ser bilíngue, pode ser utilizado em várias etapas do conhecimento escolar que sirva de motivação para a criação de outras HQs sinalizadas sobre os artefatos culturais, em especial, as da área do esporte.” (Anderson Marcondes Santana Junior – autor do Prefácio)

Autoria:
Addyson Celestino
Kelly Priscilla Lóddo Cezar
Clovis Batista de Souza

Ilustrações:
Addyson Celestino

Tradução em libras:
Jéssica Gonçalves Honório

Revisão em libras:
Danilo da Silva Knapik

Edição de vídeos:
Ivan de Souza

Tudo tem história! Esse é o lado bom da vida! É hora de retornar ao passado para compreender o que aconteceu no futuro. Com a equipe de autores não foi diferente; nossa história, embora tenha tido uma duração de apenas dois anos, foi uma experiência fantástica.
Eu, Addyson Celestino, tive a disciplina de libras no curso de graduação em Educação Física. A disciplina, diferentemente de tudo que eu já havia experienciado, foi ministrada por dois professores – um surdo e uma ouvinte! Que experiência, não acham? Então, foi assim que tudo começou. O professor Clovis ficava encarregado de ministrar a parte prática e a professora Kelly a parte teórica da linguística das línguas de sinais. Os dois apresentavam uma conexão muito diferente e divertida, claro que quando não estávamos em atividades avaliativas, pois “falar com as mãos”, embora eu já tivesse contato com a comunidade surda na igreja, era diferente; nas mãos deles, tudo parecia mais suave e fácil. Foi então que o seminário da disciplina nos provocou a pensar: “E agora, eu tenho um aprendiz surdo na minha aula”. Como futuro educador físico, o que eu iria fazer para levar o conhecimento?

Foi assim que eu e meus colegas fomos provocados a pensar sobre o assunto. A professora Kelly, por ser ouvinte, nos trazia calma, suavidade e rigidez no pensar… o professor Clovis nos desafiava a pensar sobre uma outra cultura e no encantamento de transmitir conhecimento pelas mãos.
O seminário foi motivado de muitos desafios: o conhecimento que não tínhamos, os sinais na área que não eram dicionarizados, a parte de acessibilidade que não era fornecida… tantas e tantas coisas para se pensar em um simples trabalho… pensava eu! Foi quando eu me aprofundei nos artefatos culturais e descobri as surdolimpíadas e o seminário efetivado, mas o desafio permanecia e o desejo de contribuir se mantinha. Foi quando eu apresentei meus desenhos para a professora Kelly e os presenteei com um desenho meu sobre trilha. Assim, os olhos da professora Kelly brilharam e me convidaram para um projeto de iniciação científica (PIBIC-UFPR, 2018-2019) que estava por abrir e tive contato com a HQ O congresso de Milão. Não tive dúvidas, eu queria estar ali. Na mesma época, candidatei-me à monitoria para área de libras para o curso de Educação Física sob a orientação dos dois professores e cá estou.

 

A ideia de construir uma história em quadrinhos para a comunidade surda nasceu após esse maravilhoso contato e a partir dos trabalhos realizados e divulgados pela professora Kelly, juntamente com diferentes profissionais do curso de Letras Libras e outros acadêmicos e professores, em especial, o Luiz Gustavo Paulino de Almeida.
A escolha da modalidade Orientação deve-se à falta de divulgação dessa modalidade no Brasil. A surdolimpíadas é um evento tão grandioso que nem os acadêmicos, nem os profissionais da área parecem conhecer ou divulgar. Assim surgiu a ideia da narrativa divulgar e demonstrar essa área do saber e da cultura surda que, além de estarem conectados pela linguagem corporal dos jogos, estão conectadas aos encontros linguísticos que esses eventos promovem. Foi assim que eu consegui colocar o professor Clovis e a professora Kelly para correr, na cidade e no campo (não tem como não brincar!). Por mais professores assim, de professores para orientadores; de orientadores para amizade de vida.

Brincadeiras à parte!! Essa narrativa e a efetivação física tem por objetivo se transformar em mais um material disponível para comunidade surda e que possa adentrar os espaços escolares e sociais de surdos e não surdos com o mesmo objetivo: divulgar e transformar a forma de divulgação e materiais para comunidade surda.

Addyson Celestino
Autor-roteirista-ilustrador da HQ
Profa. Dra. Kelly Priscilla Lóddo Cezar
Orientadora e autora da HQ
Prof. Clovis Batista de Souza
Orientador e autor da HQ

Nosso obrigado!!!

Addyson Celestino da Silva Campos
Autor

Formando do curso de licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), campus de Curitiba.
Cursando Educação Especial: Educação Bilíngue para Surdos Libras/Língua Portuguesa.

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Kelly Priscilla Lóddo Cezar
Autora-orientadora

Professora Adjunta do curso de licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal do Paraná (UFPR), campus de Curitiba. Pós-doutora pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Doutora pelo Programa de Linguística e Língua Portuguesa da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Conceito 6 – Capes). Graduada e Mestre pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Líder do projeto de pesquisa “Hq´s sinalizadas” (UFPR). Membro do grupo de pesquisa Formação de Professores em Línguas Estrangeiras (UFPR).

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Clovis Batista de Souza
Autor e orientador

Professor do Magistério Superior da Universidade Federal do Paraná, campus Reitoria em Curitiba, no curso de licenciatura em Letras Libras. Possui graduação em Letras Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina (2010), campus Universitário em Florianópolis e Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) em campus Cascavel. Especialista em Libras na Educação a Distância pela Sociedade Educacional de Santa Catarina, polo Cascavel. É proficiente em ensino de Libras pela PROLIBRAS nível superior MEC/UFSC – 2010. Pesquisador no projeto de pesquisa: “O uso das novas tecnologias para surdos no ensino”.

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Prefácio

Eu me chamo Anderson Marcondes Santana Junior e sou surdo. Sou formado em Educação Física e com muita gratidão venho apresentar uma história em quadrinhos bilíngue (libras-português-desenho) que foi criada e elaborada pela equipe de pesquisa da HQ para surdo/HQs sinalizadas que compõe a área de pesquisa da professora Kelly Priscilla Lóddo Cezar da Universidade Federal do Paraná (UFPR), campus Curitiba.
Desde o início do projeto, fui convidado a acompanhar o construção da ideia desta HQ e a escrever esse prefácio e fiquei muito honrado, pois eu sou um profissional da área e também surdoatleta e sei das lacunas de nossa comunidade para ter acesso às informações em primeira língua – Libras – e a falta de divulgação deste artefato cultural “esporte”.

A Deaflympics e/ou Surdolimpíadas para mim foi uma experiência fantástica, não só fisicamente, mas linguisticamente, pois tive acesso a várias outras línguas de sinais e pude experienciar outras culturas sinalizadas.
A narrativa aqui conta a história de dois personagens surdos que se encontram a caminho da surdolimpíada para disputarem a Modalidade Orientação. Ela chama-se Júlia, compete na modalidade Cidade. Ele, Júlio, apelidado de Juju, compete na Mata, ambos personagens foram inspirados em indivíduos reais da comunidade. Durante a competição, as ilustrações perpassam as regras da modalidade Orientação em verde e amarelo. As cores foram propositalmente escolhidas para representar as surdolimpíadas no Brasil. Este material, além de ser bilíngue, pode ser utilizado em várias etapas do conhecimento escolar que sirva de motivação para a criação de outras HQs sinalizadas sobre os artefatos culturais, em especial, as da área do esporte.

Anderson Marcondes Santana Junior

Prefácio

A história da história

Posfácio

Sinalário

Agradecimentos

À comunidade surda! Em especial, aos meus amigos surdos da IBAP (Igreja Batista em Afonso Pena) que sempre me recepcionaram muito bem dentro da comunidade surda, fazendo com que meu vocabulário crescesse dia após dia.
À professora Kelly Priscilla Lóddo Cezar pelas orientações, pela paciência, pela humanidade e principalmente pela motivação incansável para criação desta História em quadrinhos sinalizada.
Ao professor Danilo Silva Knapik, pelo acompanhamento e opiniões valiosas no trabalho.
Ao Anderson Marcondes Santana Junior pela troca de experiências e pela revisão do conteúdo.
Ao ilustrador Luiz Gustavo Paulino de Almeida pela arte final.
Ao professor Clovis Batista pela experiência em libras.
À coordenação e alunos do curso de licenciatura Letras Libras (UFPR).
À coordenação do curso de licenciatura em Educação Física (UFPR).
Ao programa de iniciação científica e ao Programa de Monitoria (UFPR).
Ao Grupo de pesquisa em Formação de Professores em Línguas Estrangeiras pelos debates promovidos e pelo grande incentivo dos líderes Francisco Fogaça e Regina Halu (UFPR).
Ao Dilvano Leder de França pelo seu conhecimento e envolvimento na modalidade Orientação, que me motivou a desenhar e aprofundar os conhecimentos.
Ao professor Paulo Vaz de Carvalho por sempre, mesmo de tão longe (Lisboa/PT), incentivar, auxiliar e estar à disposição!!!
Aos alunos do curso de Letras Libras da Universidade Federal do Paraná que acompanham e divulgam as pesquisas e são participantes ativos dos trabalhos sobre história em quadrinhos, em especial, Lorianny de Andrade Gabardo.
Às escolas de surdos bilíngues pela resistência e por nos fazer pensar prioritariamente nos materiais criados na universidade (pesquisa) para contribuição social. Desejamos que nossos trabalhos conquistem mais espaços para futuramente conseguirmos disponibilizá-los gratuitamente a todas as escolas.
Por fim, gostaria de salientar meu agradecimento à minha orientadora-amiga Kelly Cezar pela generosidade que em todos os sentidos fez com que essa jornada fosse possível. A cada encontro, muitas vezes desmotivado, retornava com aprendizados científicos e pessoais fortificados pelas experiências profissionais e pessoais que ela dispõe e nos fortalece. Por este motivo, eu realizo esse agradecimento especialmente a ELA, minha orientadora a quem eu gostaria de retribuir sua amizade, seu tempo e seu carinho.
Muito obrigado!!!

Addyson Celestino

Posfácio

Primeiramente, gostaria de agradecer o convite para realizar este posfácio do livro HQ Surdolimpíadas: encontros linguísticos cujo trabalho também participei como colaborador e revisor surdo, o que considero ser de grande importância devido a minha identificação com a cultura surda gerada pela temática surda abordada nesta HQ.

É importante ressaltar que este é o quarto trabalho publicado vinculado ao projeto “HQ sinalizada” liderado pela professora Kelly Priscilla Lóddo Cezar e que também contou com as contribuições de professores surdos e de acadêmicos de vários cursos, bem como incluiu o auxílio de colaboradores externos.

Antes, porém, de falar deste trabalho de forma mais específica, quero registrar meu reconhecimento de outras importantes produções elaboradas pelo projeto: 1ª) O congresso de Milão, 2ª) A mulher surda na Segunda Guerra Mundial e 3ª) Tons de melancolia.

Vale dizer que os trabalhos acima e estes acrescido desse mais novo se configuram como notáveis produções para a área de Estudos Surdos, principalmente, pelas temáticas abordadas. Além disso, podem ser usadas como relevantes ferramentas pedagógicas por conter narrativas visuais, língua de sinais e cultura surda voltadas à comunidade surda.

A HQ Surdolimpíadas: encontros linguísticos foi produzida por Addyson Celestino da Silva Campos, acadêmico do curso de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e contou com a orientação acadêmica dos professores Kelly Priscilla Lóddo Cezar e Clovis Batista de Souza. Para a HQ em questão, o autor escolheu apresentar a “Orientação”, uma modalidade esportiva ainda pouco conhecida no Brasil. Esta modalidade é um esporte que consiste no atleta percorrer lugares de controle definidos no solo, bem como, montanhas, rios, entre outros terrenos, no menor tempo que conseguir, contando para isso sempre com a ajuda de uma bússola e um mapa.

Vale salientar que a orientação é uma modalidade esportiva também usada nas Surdolimpíadas, em inglês Deaflympics, que é uma olimpíada mundial dos surdos muito bem organizada e que conta com grande participação de atletas surdos de vários países. Algo notável é que esta modalidade teve seu início oficial na cidade de Roma no ano de 2001 e já contabiliza cinco realizações das competições sendo a última edição realizada na cidade de Samsun, na Turquia em 2017.

Ainda no que corresponde à Orientação, cabe informar que esta modalidade não integra o rol de modalidades esportivas dos Jogos Olímpicos nem das Paraolimpíadas, assim incorpora somente as demais modalidades das Surdolimpíadas. Até onde sabemos, nunca houve a menção e registro de um atleta surdo brasileiro participando desta modalidade nas Surdolimpíadas. Provavelmente, a ausência de informações a esse respeito seja um dos motivos da não participação. Nesse sentido, a título de exemplo, eu mesmo como surdo nunca vi um evento organizado para surdos ou da área da acessibilidade que integrasse essa modalidade.

Ao analisar esta HQ, percebe-se que ela narra a história do encontro de dois personagens surdos que coincidentemente participarão das competições da Surdolimpíadas a ser realizada no Brasil no ano de 2021.

Importante destacar que os surdos são minoria em relação aos ouvintes na sociedade, por isso, apesar da pouca probabilidade, é curioso que dois surdos se interessem pela mesma modalidade desportiva. Outro ponto relevante é que a história conta sobre uma personagem que compete na cidade e um personagem que compete no campo. Assim, na intenção de narrar essa história, a HQ se vale de imagens e outras maneiras de explicar as regras da orientação como uma modalidade desportiva, bem como, para além da competição, e ao final da narrativa mostrar que nesse esporte existe a possibilidade de proporcionar encontros linguísticos e que, com as estratégias e ajustes necessários, os surdos são capazes de participar de uma modalidade olímpica.

Para concluir, esta HQ tem o importante objetivo de divulgar a Surdolimpíadas aos surdos para que eles conheçam a Orientação como um tipo de esporte de que podem não só participar, assim como ocupar este espaço esportivo mesmo com as adaptações necessárias. A propósito, é importante ter em mente que esta não é a única modalidade de atuação, pois existem outros esportes de que os surdos podem participar.

Acredito que esta HQ é inclusive uma ótima oportunidade para mostrar, principalmente, para as crianças surdas a fim de que aprendam através de uma narrativa visual, com intenção de que se apropriem dos valores do esporte e que os surdos são capazes de participar de um evento se assim quiserem.

Neste passo, importa dizer que a contribuição do poder público, assim como outras parcerias são de grande relevância para proporcionar a participação de atletas surdos em competições.

Mais uma questão pertinente abordada nesta HQ é a respeito das adaptações e estratégias necessárias para que viabilizem a participação de atletas surdos. Como é o caso do futebol em que, ao invés do apito, podem ser usados cartões para alguns avisos, bem como algumas informações poderiam ser realizadas por gestos. Outro esporte que pode ser adaptado para atletas surdos seria a natação, que poderia se valer de sinais luminosos para advertir os competidores. Já a orientação é um esporte que permite o uso de língua de sinais que promove a comunicação linguística até porque esta modalidade esportiva exige lógica, agilidade, uso do físico e comunicação entre a equipe para o cumprimento das etapas da competição.

Por fim, esta HQ bilíngue apresenta os surdos de forma respeitosa, como também aborda a importância da igualdade e da inclusão social em questões esportivas. Do mesmo modo que apresenta também o respeito à cultura surda, à identidade surda, tal qual as diferenças e adequações necessárias para garantir a acessibilidade linguística e viabilizar a participação dos surdos em diferentes lugares, mostrando sempre que eles são capazes.
Boa leitura

Danilo da Silva Knapik

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